segunda-feira, 9 de março de 2009

Polícia à Portuguesa - Fernando Contumélias e Mário Contumélias


Sinopse:
Num momento em que a questão da insegurança está na ordem do dia, apresentamos este livro escaldante no qual se traça um retrato muito cru, actual e realista da PSP. Uma realidade que não pode passar despercebida à própria Corporação, forças políticas e sociedade civil em geral. Falamos de uma polícia mal preparada, desmotivada e sem condições de trabalho. Homens e mulheres que chegam a passar fome, que têm uma vida familiar desestruturada, problemas de saúde, sujeitos a regras que nem sempre compreendem, alvos fáceis de processos disciplinares e/ou criminais. Polícias que têm ordem de não disparar nas perseguições a criminosos. Que tentam fazer o seu trabalho com pistolas velhas, balas contadas, coletes muito pouco à prova de balas. Que conduzem carros que não passariam numa vulgar inspecção e cujos motores muitas vezes rebentam em plena «caça» ao ladrão! Que não acertam num alvo a não ser por acaso? E como se não bastasse, falamos de polícias que ainda se queixam de perseguições internas, de favoritismos, de partidarização da corporação e da influência militar. Este é um documento fundamental que apela à reflexão nacional, especialmente quando o que decorre da sua leitura é que, na verdade, o país está mesmo entregue aos «bandidos»!

Comentário:
Neste livro Fernando e Mário Contumélias revelam-nos muitas das dificuldades que os agentes da Polícia de Segurança Pública portuguesa sentem diariamente no cumprimento da sua profissão, como a falta de equipamento, material, meios e viaturas adequadas ao desempenho das suas tarefas e missões.
O fardamento é adquirido muitas vezes pelos próprios polícias, a formação que recebem não é por vezes a mais adequada e não é contínua (por exemplo, não podem praticar tiro com frequência porque as munições são caras e as próprias armas, de tão antigas que são, provavelmente não durariam tanto) e andam constantemente em sobressalto, porque qualquer passo que dêem em falso são alvo de um processo disciplinar.
Este livro foi escrito com base no testemunho de vários agentes da PSP e elementos que integram o Sindicato desta classe. Aliás, o livro é composto essencialmente por transcrições das declarações proferidas por esses mesmos elementos da autoridade.
Gostei do livro, não deixando no entanto de realçar que este mostra apenas um lado da questão. Ou seja, “Polícia à Portuguesa” apresenta-nos os agentes da PSP como as vítimas da situação, os “coitadinhos” a quem tudo corre mal, esquecendo-se de referir, os muitos casos em que alguns desses mesmos agentes usam e abusam do poder que têm enquanto agentes da PSP, em que não respeitam por vezes os direitos e liberdade dos cidadãos… Podem ser poucos os polícias que fazem isso, mas infelizmente ainda o fazem…

Citações:
«Pode dizer-se que a PSP é uma instituição em crise, na medida em que está ainda a viver uma fase de indefinição do modelo a encontrar.»

«Somos maltratados pelo Estado e pelos governantes, que não nos dão os meios para trabalharmos.»

«Imagine que dizem para nos deslocarmos com urgência a determinado sítio porque está um colega em apuros; se eu for motorista de um carro, vou tentar chegar lá o mais rápido possível. Mas se, for por infelicidade minha, durante o trajecto, bater numa viatura ou uma viatura embater em mim, tenho logo um processo disciplinar e, às tantas, ainda tenho que pagar o arranjo da viatura, porque os carros da Polícia não têm seguro. Nem seguro, nem inspecções; andam aí carros que, se eu mandasse, eram logo abatidos… Uma pessoa de bem, como é o caso da Polícia devia dar o exemplo. Já viu o que é um agente num carro todo podre, a deitar fumo por todo o lado, mandar parar um cidadão para lhe inspeccionar o automóvel?»

Classificação: 3/5

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