quarta-feira, 10 de junho de 2009

Não sei nada sobre o amor - Júlia Pinheiro

Título: Não sei nada sobre o amor

Autor: Júlia Pinheiro
Editora:
Esfera dos Livros
Data da primeira edição: Abril de 2009
N.º de páginas: 345
P.V.P.: 17 €

Sinopse:
Quando desceu ao riacho, mantilha na cabeça e coração aos pulos, Maria da Glória não sonhava que aquele encontro fortuito com o macho da aldeia iria marcar para sempre a sua vida. Esperava sair dali com namoro anunciado e quem sabe até com casamento marcado. Saiu à pressa, com a roupa ensanguentada, as tripas viradas e a semente de Maria da Purificação na barriga. Estava lançado o destino das mulheres desta família na qual as palavras prazer, carinho, paixão e amor permanecerão para sempre um mistério. A apresentadora de televisão Júlia Pinheiro estreia-se na escrita com uma história surpreendente e apaixonante sobre quatro mulheres que nada sabem sobre o amor. Ao longo destas páginas não suspiramos de amor, não nos empolgamos com casos de paixão arrebatadora, nem choramos com casamentos felizes. Somos levados numa saga familiar que se inicia nos anos 30 onde os sentimentos eram um infortúnio e o prazer uma pouca-vergonha. Não Sei Nada sobre o Amor traça o retrato de uma sociedade e de um país ao longo de quase 70 anos de história, através do olhar de Maria Glória, a avó, Maria da Purificação, a filha divorciada, Ana Clara, a neta mãe solteira, e Benedita, a bisneta, que, apesar de todas as expectativas, não se casa com nenhum príncipe encantado.

A minha opinião:
Maria da Glória, Maria da Purificação, Ana Clara e Benedita… Quatro gerações, quatro mulheres diferentes, quatro personalidades diferentes, quatro mentalidades distintas e fortemente vincadas pelas tradições, hábitos e costumes referentes à época em que viveram.
No seu primeiro romance (sim, porque parece que já está outro na forja), Júlia Pinheiro através de uma linguagem rica e rigorosa, descreve-nos as aventuras e desventuras vividas por estas quatro mulheres, nomeadamente, no campo amoroso. Por muitas experiências que tenham vivido em termos amorosos, nunca se mostram agradadas e consideram sempre que não foi aquilo que idealizaram para si. Mas essa indefinição e insatisfação afectiva surge mesmo no seio familiar, em que, entre si não conseguem transmitir o que sentem e demonstrar o mínimo de afecto e amor. Este aspecto verifica-se essencialmente na relação entre Maria da Glória e Maria da Purificação.
Maria da Glória sujeita-se a um casamento, arranjado por um padre, para esconder algo do seu passado. Teve a felicidade de encontrar em Ernesto um homem que sempre a amou e que assumiu a paternidade de Maria da Purificação, mesmo sabendo que ela não era sua filha. Mas ela nunca o conseguiu amar. De ideias tradicionalistas e bem vincadas, Maria da Glória revela-se uma crítica acérrima de todas as transformações que a Mulher começou a assumir na sociedade portuguesa a partir da década de 30. E, apesar de ser contra, teve que começar a enfrentar essas alterações com a sua filha, quer na sua forma de agir e vestir, quer no seu envolvimento político e na decisão de se divorciar.
Segue-se a neta Ana Clara que, depois de ver a sua família desfragmentar-se, envolveu-se com um homem casado e acabou grávida de Benedita.
Por sua vez, a bisneta de Maria da Glória, iniciou a sua vida sexual aos 14 anos com um colega do colégio e foi o primeiro de vários relacionamentos sem paixão ou sentimento. E, ao contrário do que pretendia a sua avó paterna, também não casou com nenhum príncipe romano...

No fundo, este romance retrata um pouco a evolução, o (des)envolvimento, o crescimento e o papel da Mulher no nosso país desde a década de 30. E tudo isto é feito de forma descritiva, quer no que diz respeito a aspectos e pormenores sociais, culturais e políticos.

Admiro a Júlia Pinheiro enquanto profissional de comunicação. Sei que há muitas pessoas que não gostam dela.
Decidi arriscar e comprar este livro um pouco por impulso e não tanto pela sinopse em si. Não me arrependo nada de o ter feito. Gostei e fico a aguardar pelo seu novo livro…

Classificação: 4/5

Epílogo:
«Maria da Glória morreu no final do ano de 1999, quase à beira do novo milénio. Tinha 84 anos, viveu para o dever e para a culpa. Teve uma filha, um marido e um único orgasmo. A bisneta com apenas 15 anos já lhe levava um avanço considerável. Ana Clara continua a viver sozinha na Estrela e é professora catedrática. Purificação decidiu deixar Portugal e vive no Brasil com o viúvo dos supermercados. Benedita não casou com um príncipe romano.»

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