O dia 4 de Junho vai servir de pretexto para o lançamento de Casas Contadas de Leonor Xavier. O local escolhido é o Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal, pelas 19 horas. A apresentação estará a cargo de Helena Matos.
Uma vida contada através das treze casas a que Leonor Xavier chamou suas. O tema é tanto mais interessante quanto a autora viveu nessas casas experiências marcantes, não só para ela, mas para toda uma geração. Oriunda de uma família da média-alta burguesia, casada cedo com um jurista brilhante, com três filhos pequenos, passa do ambiente protegido de uma família tradicional numa casa da Lapa, para São Paulo, no Brasil, quando, em 1975, ela e o marido decidem começar uma nova vida fora de Portugal. A experiência – que foi certamente vivida por muitos portugueses que abandonaram Portugal nos anos 70 – é muito bem narrada no livro. Tudo é novo: a situação precária em que chegam, os trabalhos ocasionais, a nova escola dos filhos, a empregada brasileira, a solidariedade dos amigos que conhecem no Brasil, a língua diferente, os costumes muito mais livres. Mais tarde, o regresso a Portugal, a adaptação ao país diferente que vem encontrar, o recomeçar de novo,integrando na sua nova vida o espírito optimista, sem preconceitos e convivial que foi talvez, para além dos muitos amigos, o que de melhor lhe ficou da experiência brasileira. Numa escrita colorida e muito pessoal, Leonor Xavier dá-nos o retrato de dois mundos muito diversos que ela conseguiu conciliar como ninguém.
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Há 1 hora
3 Comments:
Realmente a leitura deve ser bem interessante!
Valeu a dica!
Bjs
Hummmm, bateu curiosidade!
Beijos!
Fica à espera de que eu acabe de ler o «Regresso a Barcelona» que ando a ler, cuja leitura aconselho e de que aqui vai um excerto:
«- Meu caro Aquiles, meu caro Aquiles, como tem passado? Veio mais cedo, não foi? A que horas tínhamos combinado? - Olha para o relógio, uma cebola que lhe esgana o pulso. - Não interessa, não interessa.
Fecha uma pasta de papéis em cima do mata-borrão já muito manchado, fazendo esvoaçar outros, que apanha com um gesto felino, imprevisível na sua figura rotunda. Contorna a grande mesa. Chega-se a mim de braço estendido e dedos papudos e húmidos que apertam os meus sem visível vontade. Fala continuamente como se temesse o silêncio e o espaço que nele pudessem ocupar as minhas respostas. É assim há vinte anos.
- Espero que esteja tudo bem. Pensou na minha proposta? Descanse, não é para já. Para já, mais uma viagem, mais uma encomenda, mais um livro. Enquanto pagarem, eu não tenho problemas, mando-o para onde for preciso. - Ri-se para si. - Está livre para viajar na próxima semana, não está? Claro que sim. O meu grande Aquiles, sempre livre!
A editora fica numa porta sem placa e sem número na curva da Calçada de São Francisco, quase tão fantasma como a natureza das obras que publica. Estremece sempre que o eléctrico passa, como é usual nos edifícios daquela encosta. Um terceiro andar alto sem elevador onde mesmo os mais atléticos chegam ofegantes. Uma secretária quarentona com maquilhagem em excesso na penumbra de um corredor e a grande sala de Timóteo, nada mais. Paredes despidas, lâmpadas fracas. Consta que há uns revisores e um contabilista numa despensa das traseiras, mas nunca os vi.
- Barcelona, desta vez! Eu sei, nem é longe, mas que cidade, que cidade...»
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