quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Expresso de Cantão - Giuliano da Empoli

Título: O Expresso de Cantão
Autor: Giuliano da Empoli
N.º de Páginas: 288
Editora: Bertrand Editora
1.ª Edição: 2009

Sinopse
1503: Giovanni da Empoli, um jovem mercador florentino, embarca nos navios que conduzem pela primeira vez o grande Afonso de Albuquerque ao continente indiano. Trata-se do início de uma aventura que haveria de durar quinze anos, durante os quais Giovanni da Empoli participaria nos eventos mais importantes da sua época e conheceria os seus protagonistas: de Savonarola a Magalhães, de Maquiavel a Leão X.
2008: Giuliano da Empoli, descendente do mercador florentino, decide seguir o trilho do seu ousado antepassado. Numa altura em que o baricentro do mundo a deslocar-se novamente para o Oriente, o autor oferece-nos um relato de viagens encantador que descreve duas frases cruciais da globalização através do olhar de dois testemunhos ligados por um fio invisível que percorre cinco séculos de História.

Sobre o autor
Giuliano da Empoli nasceu em Paris, em 1973, e é conselheiro especial do
Ministro da Cultura italiano e do vice-primeiro-ministro. É também o fundador e editor da “Zero”, uma revista de cultura e política, e colunista do diário financeiro Il Sole 24 Ore. Esteve à frente da editora Marsilio e foi director da Bienal de Veneza. É formado em Direito pela La Sapienza, de Roma, e diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Está traduzido para várias línguas.

Navegador
Navegador: por alguma razão aquela palavra arcaica tinha despertado em mim uma saudade inesperada. Foi por isso que, mal cheguei a casa, me atirei sobre a cópia de uma velha carta datada de 12 de Julho de 1514, guardada como uma pequena relíquia entre os papéis de família. Agora, através das páginas empoeiradas, por muito inacreditável que fosse, Giovanni estava a falar para mim. A sua voz afável chegava-me de um mundo em que a descoberta não era prerrogativa de burocratas de camisas brancas, nem a aventura de estrelas do cinema com sotaque do Midwest. Um mundo em que os diletantes impulsivos ocupavam ainda o centro da cena e não tinham sido marginalizados pelas fórmulas dos especialistas. Um mundo em que uma pessoa podia embarcar para um destino hipotético com a razoável expectativa de se transformar no fundador de um império.
Giuliano da Empoli

A minha opinião
O viajante e mercador florentino Giovanni da Empoli foi um importante informador do Estado Português da Índia por altura dos Descobrimentos. Por sua vez, Giuliano da Empoli é descendente deste aventureiro que fez história no século XVI. A separá-los estão mais de 500 anos, mas em comum têm, além do parentesco, uma adoração pelo Oriente e que deu origem a esta obra.
Giuliano da Empoli foi convidado para a inauguração da Via Giovanni da Empoli. O convite foi-lhe indiferente devido à sua ignorância sobre os feitos do seu tio-avô que embarcara, nas primeiras naus portuguesas com destino à Ásia. Mas, após alguma pesquisa, e dado que a sua família é rica neste tipo de personagens e possui algumas das cartas de Giovanni, decidiu investigar um pouco mais a vida do seu tio-avô.

Ainda muito novo, Giovanni da Empoli decidiu ser monge. Nessa altura todos aqueles que, tal como Giovanni, pretendiam ser monges tinham como principal missão fundar em Florença a nova Jerusalém, o lugar a partir do qual uma vaga arrastaria a corrupta Igreja de Roma e os princípios italianos degenerados, restaurando a virtude originária de Cristo. E, o desafio dos monges começava logo por coisas simples e pequenas: o aspecto e disciplina pessoal.
Giovanni começou a aprofundar os seus conhecimentos e a cultivar a curiosidade pelo que o mundo escondia para lá da cidade. Durante muito tempo, o jovem florentino estava convencido de que Florença era a nova Jerusalém, destinada a limpar Itália dos pecados. Mas, com todas as mudanças políticas, sociais e religiosas que Florença foi sofrendo, a situação da cidade tornava-se cada vez menos próspera. A sua vocação religiosa, que consistia numa vida muito regrada e cheia de privações, dava assim origem à vida de viajante e mercador.
«A indústria da seda e da lã encontra-se carenciada, ao passo que os capitais são deslocados para lugares mais acolhedores. Por outro lado, apesar das penitências e dos jejuns impostos pelo monge, a fome e, durante o Verão, a peste propagam-se pela cidade com uma frequência crescente.»

Noutros países, forças poderosas lutavam para terminar com o domínio do monge. Depois do Verão de 1498, nada voltou a ser igual para Giovanni e este acabaria por viajar por diversos lugares do mundo, embora o seu grande propósito fosse conhecer Cantão.
«Se não é possível mudar o mundo, talvez se possa tentar mudar de mundo.»

Ao longo do livro, o autor vai também relatando e enaltecendo o importante papel e os feitos que Portugal alcançou durante a época dos Descobrimentos.
«Periférico em relação ao Mediterrâneo, Portugal está interessado em pensar fora dos esquemas, em subverter os paradigmas dominantes, em transgredir as regras. Se o resto da Europa é vítima do integralismo étnico-religioso, Portugal torna-se catalisador de todos os recursos e conhecimentos que por preconceito e ignorância, outros Estados muito mais poderosos têm ignorado por sua conta e risco.»

Giovanni da Empoli chegou a residir em Portugal, em casa do Conde Giovan Francesco degli Affaitati, um banqueiro amigo dos Frescobaldi, família que financiou a expedição de Giovanni para a Costa de Malabar.
A primeira das duas frotas militares enviadas com a tarefa de afirmar o domínio português na Costa do Malabar, foi comandada por Afonso de Albuquerque, filho ilegítimo do rei D. Dinis, de cognome o Lavrador.
Efectuaram percursos segundo as coordenadas anteriormente descobertas por navegadores portugueses, como Bartolomeu Dias e Vasco da Gama.
Foram vários os lugares por onde Giovanni passou e viveu, mas o seu desiderato era chegar a Cantão, feito que conseguiu em finais do Verão de 1517. O italiano viria aí a morrer a 31 de Outubro do mesmo ano.
«Aterrorizado pelo caos terrestre, que tinha arrastado a utopia de Savonarola, Giovanni escolheu a grande segurança do mar, graças à qual pôde levar uma vida livre de tentação, investida de uma beleza moral simples, dada a rectidão absoluta da sua vocação e da simplicidade do seu propósito. O mar foi para ele uma vocação e um renascimento.»

Cinco séculos depois, Giuliano da Empoli decide repetir os trilhos percorridos pelo seu tio-avô. No entanto, fá-lo de uma forma comparativa com a actual sociedade. No fundo, são dois testemunhos sobre o mesmo assunto mas datados com cinco séculos de distância.
É notável o trabalho de pesquisa realizado por este autor para elaborar este livro, basta atentar na longa bibliografia apresentada. Para quem gosta muito de História, designadamente da época dos Descobrimentos, este é de facto um livro aconselhável. Apesar do parentesco dos dois protagonistas, o enredo não se perde em descrições de casos e situações familiares e sim, em factos que afectaram e que dizem respeito a vários países.

Classificação: 4/5

5 Comments:

Carla Martins said...

O livro parecce ser bem interessante! Adorei sua resenha!

beijos!

Sandra Dias said...

Olá,
Tens 2 prendinhas no meu blog.
Espero que gostes!

Rubi said...

Parece-me um livro muito bom. Vou anotar. Parabens pelo blogue!

Jojo said...

A tua resenha despertou em mim o interesse neste livro. Vai para a minha lista...

Boas leituras!
Bjokinha***

Maria Manuela said...

Carla,
O livro é realmente interessante.
Aconselho a sua leitura, principalmente, a todos os que adoram História e não é uma leitura "pesada".

Miar à chuva,
Obrigada pelas prendinhas.
As Marias retribuem os prémios.

Rubi,
Muito obrigada!

Beijos e continuação de boas leituras