terça-feira, 16 de junho de 2009

Love Life – De Coração Aberto, de Ray Kluun

Título: Love Life - de Coração Aberto
Autor: Ray Kluun
Edição/reimpressão: 2009
Editor: Editorial Presença
Colecção: Vidas D'escritas
Número da colecção: 1
Classificação: Romance

Sinopse:
«Sou um hedonista com monofobia grave.» É assim que Dan, o protagonista deste romance semiautobiográfico, se descreve logo nas primeiras páginas, sem hesitações nem margem para dúvidas. Uma descrição que pouco teria de chocante e extraordinário não fosse o facto de este livro tratar da batalha da mulher de Dan, Carmen, com um cancro da mama. Jovens, bem-sucedidos e com uma filha prestes a completar um ano, Dan e Carmen eram um casal feliz a viver uma vida despreocupada antes de o diagnóstico os atingir. Mas, revoltado com a crueza do destino e as limitações que daí para a frente marcarão o seu dia-a-dia, Dan recusa-se a abdicar de tudo e inicia uma vida dupla: durante a semana acompanha a mulher aos tratamentos e aos fins-de-semana entrega-se ao álcool e ao sexo fortuito. Love life – De coração aberto é um relato duro e sem concessões, que não deixará ninguém indiferente, de um homem dividido entre a lealdade à mulher e o desejo de viver a vida ao máximo, Honesto, tocante e polémico, confronta os leitores com a pergunta a que ninguém quer responder: quando a vida dá uma volta de 180 graus, estamos sempre à altura do desafio?

Ray Kluun
Ray Kluun nasceu em 1964 e trabalhou durante bastantes anos em publicidade. Em 2001 a sua mulher morreu de cancro e algum tempo depois Ray foi viver com a filha para a Austrália, onde escreveu Love Life – De Coração Aberto. Esta sua estreia literária tornou-se um dos maiores fenómenos na Holanda, com mais de 500 000 exemplares vendidos, direitos adquiridos por 27 territórios e mais de 70 semanas passadas nas listas de bestsellers e um prémio atribuído pelo público (NS Publiek Prize). Love Life – De Coração Aberto é uma obra que toca pela sensibilidade e verosimilhança. Semiautobiográfico, tem a assinatura do publicitário Raymond van de Klundert que viu a sua mulher de 36 anos morrer com cancro. Kluun levou então a filha Eva, que tinha três anos na altura, para a Austrália, onde escreveu Love Life. Uma obra que desarma os corações mais resistentes.

A minha opinião:
Surpreendente, arrepiante, comovente, chocante, hilariante, realista, tocante… é fascinante como Ray Kluun consegue reunir todos estes ingredientes neste seu livro semiautobiográfico.
Um livro que aborda temas geradores de polémica, como a eutanásia, a infidelidade e de uma doença que, infelizmente, hoje em dia parece proliferar no mundo a olhos vistos, o cancro.
Dan e Carmen formavam um casal que vivia feliz. Tinham bons empregos, uma filha adorável e o dinheiro não era problema. Mas, como se costuma dizer “o dinheiro não é tudo” e o dinheiro não é, muitas vezes, sinónimo de felicidade.
Devido a uma análise médica errada, efectuada meses antes, quando Carmen descobre que tinha cancro da mama, as suas possibilidades de sobrevivência foram reduzidas logo para 40%.
A operação não era a solução mais viável no imediato. Por isso, começam os tratamentos de quimioterapia e depois, radioterapia para tentar reduzir o tamanho do tumor alojado no seu seio. Ray kluun descreve-nos, e por vezes de forma fria, todos os passos atravessados neste processo, como a queda de cabelo, as náuseas e vómitos, a falta de auto-estima e o sofrimento vivido pelo doente e por todos os que o acompanham. Segue-se a ablação do seio de Carmen... o seu corpo muda, a sua postura muda, a sua relação com Dan sofre cada vez mais alterações.
Mas Carmen revela-se uma mulher forte, determinada, lutadora e não desiste da luta.
A seu lado tem Dan que sofre de monofobia*. Quando descobre a doença da mulher, a sua rotina altera-se e o seu lado boémio vem ao de cima. Dan começa a arranjar cada vez mais desculpas para fazer as suas noitadas, até que surge Rose… esta não foi uma aventura apenas de uma noite.
Quando tudo previa que o estado de saúde de Carmen estava em franca melhoria, surge a machadada final… uma metástase no fígado e outras mais estavam a surgir.
Nova derrocada naquela família e, desta vez, as possibilidades da mulher de Dan recuperar eram nulas.
A partir daqui a história desenrola-se em torno dos momentos finais da vida de Carmen. As consequências desta doença nefasta, os tratamentos para minorar a dor, a despedida dos amigos, marido e filha, a eutanásia… tudo é descrito ao pormenor pelo autor.
Sabendo tratar-se de uma obra semiautobiográfica, à medida que a leitura vai avançando, vamo-nos questionando sobre os aspectos que serão realmente autobiográficos. Serão as constantes traições? Será a força que Carmen demonstra na luta contra a doença? Será, apesar da vida dupla, o apoio constante do marido a Carmen? Trata-se de um livro que nos consegue colocar num minuto a rir e, no minuto seguinte de leitura, revoltados ou chocados. Uma história que nos mostra que o lema “Carpe Diem” deve ser levado a sério por todos nós.
Para as pessoas que padecem desta doença e se submetem aos seus tratamentos, Carmen revela-se um exemplo de coragem e determinação, na forma como encara as coisas. Por outro lado, e apesar da sua monofobia, Dan revela-se um exemplo de força ao acompanhar Carmen nesta sua batalha.
O único senão que aponto neste livro é a utilização excessiva por parte do autor de “samplescritos”**.
Gostei muito deste livro e recomendo-o vivamente. No entanto, para pessoas mais sensíveis e que facilmente se emocionam, recomendo-o com alguma cautela tendo em conta a forma como o cancro, os seus tratamentos e a eutanásia são abordados e descritos…
No caso das cenas mais fortes e marcantes da obra terem acontecido na realidade, acredito que este foi certamente um livro escrito de “coração aberto”…

Classificação: 5/5

* Monofobia - medo mórbido de uma vida (sexualmente) monogâmica que conduz a uma necessidade compulsiva de praticar a infidelidade.

** Samplescrito – fragmento de música ou texto inserido numa passagem textual. Cf. V. samplescrever. Variante do que é conhecido na música denominada hip-hop e house como um sample: fragmento de música previamente gravado por terceiros, que é usado enquanto componente de uma nova composição musical.

Excerto:
“A Carmen diz que quer deixar bem claro que deve ser ela própria a decidir se e quando vai pôr fim à doença. Fala como se estivesse a discutir a candidatura a um emprego. Como se precisasse de convencer alguém das suas qualificações.”

6 Comments:

Doces Romances said...

Lindaaa, adorei o livro que vc postou e a sua opinião. Deixei um selinho pra ti no meu blog. Passa lá pra pegar. Beiijão .**

Anónimo said...

O Compartilhando Leituras está de visual novo. Faça uma visitinha, participe da enquete e dê o seu voto. Sua opinião é muito importante para sempre fazermos blogues com qualidade e conteúdo. Obrigadaaaaaa!!!

Abraços

WhiteLady3 said...

Acho que este livro ainda não é para mim, por diversas vicissitudes, mas será um livro a reter e a ler mais tarde.

Maria Manuela said...

Doces Romances,
As Marias agradecem o selinho.
Quanto ao livro do Ray Kluun aconselho-o vivamente!

Mariane,
Parabéns pelo novo visual do blog. Está muito giro. As Marias vão com toda a certeza continuar a visitá-lo.

Beijos e continuação de boas leituras

Maria Manuela said...

WhiteLady3,
Tal como referi, certas passagens do livro podem ferir susceptibilidades porque descrevem ao pormenor as consequências desta doença.
E por muito conhecimento que se tenha sobre o assunto, ou mesmo que se tenha vivenciado de perto siuações do género, não conseguimos ficar indiferentes e completamente destroçados com algumas partes do livro. Embora, o autor tente utilizar algumas situações humorísticas (nomeadamente entre o Dan e a Carmen) para aliviar um pouco a tensão, mas é difícil esquecer o tema principal deste enredo...

Continuação de boas leituras

cris said...

Coloquei um link deste post no meu blog, espero que não te importes!